19.3.10

conclusão

chego a casa. silêncio. levo os cães à rua. silêncio. entro em casa. silêncio. subo as escadas, apago as luzes, deito-me. silêncio. com as paredes não falo, recuso-me. com os meus cães limito-me a fazê-los abanar a cauda. silêncio. apago a luz. silêncio. parece que a vida desapareceu desta casa. parece. silêncio. adormeço, talvez, em silêncio.

18.3.10

família polónia

ando aqui há quase uma semana em conversações com um familiar - descobri há uma semana - de lisboa, que tem tentado a todo o custo fazer a árvore genealógica da família polónia! nem mais!

numa das conversas desta noite e depois de ver o trabalho que o joão já teve, eis que descubro que a família polónia está em portugal - coisa que já sabia, pois há-os em ovar, porto e lisboa (só grandes cidades), mas também - pasme-se - aos montes no brasil e na república dominicana!

então transcrevo aqui parte dum contacto de um familiar, no nosso país irmão:
"fiquei muito curioso, pois eu também sou polónia, mas polonea com "e", erro de cartório. meu pai foi registrado com "e", como disse, mas meu avô, já falecido é com "i", polónia.
alguns primos e tios, também tiveram erros de registro e ficaram como polonio. meus avós paternos eram portugueses e viveram em nova friburgo-rio de janeiro, onde ainda tenho tios, tias, primos e primas. eram mais ou menos 10 ou 11 filhos de antónia dos santos e joão
polónia. meu pai, hermes polonea, um dos onze filhos, faleceu em fevereiro deste ano. hoje já não tem mais nenhum irmão vivo, só as mulheres, umas quatro mais ou menos.
será que tem alguém aí, deste ramo da família. tem muitos anos que não tenho contato com eles"

e acaba assim, desta maneira maravilhosa, vendo-me eu envolvido neste ponto de encontro sem lágrimas, para já, pois ainda não se conhece o local onde todos nos abraçaremos!

quem tiver mais informações sobre a família polónia, não hesite em contactar! agora, também eu estou curioso!

17.3.10

monólogo antes de partir

vou à rua

preciso de ar

estou entalado até cá acima

não consigo sequer engolir

nem em seco

até já

o falsificador

a certa altura da sua vida um homem que sempre falsificara quadros começou a ver mal. estava viciado: começou a falsificar músicas. na morgue, depois de morto, confundiram-no com outro.

gonçalo m. tavares in o senhor brecht

sr.murakami

já escrevi em tempos que não gosto de murakami. ponto. ainda que só tenha lido um livro dele que, pelos vistos, é considerado o melhor - kafka à beira mar - e que tenha achado uma autêntica inliteratura de 600 páginas, estou longe de lhe dar outra oportunidade. não dei outra ao paulo coelho. não dei a oportunidade sequer de ter chegado ao fim do livro com a margarida rebelo pinto. porém, por estes dias, e pensando num trabalho que ando aqui a magicar, fui levado ao murakami, ao haruki - escritor - não ao takashi - pintor. dei por mim então a dar-lhe uma nova vida, a fazê-lo descobrir coisas reais do mundo, ele que tanto inventa do mundo que até nos complica, ele que inventa personagens tiradas do chapéu, sem qualquer justificação, de maneira a dar soluções a coisas que não tem por onde se lhe pegue. assim, o sr.murakami, vai entrar numa viagem para conhecer o mundo, para assentar os pés na terra, para ver o que de melhor tem, para aprender. vai ser levado pela mão de crianças que, ajudando-o, vão explorar um mundo que não conhece, oferecedo-lhe a seguir um "roteiro" daquilo que existe e sobre o qual pode escrever...bem, desta vez! escrevendo tudo isto, tento quebrar a resistência que lhe tenho, podendo até chegar a hora duma segunda oportunidade, adoçando aquilo que sobre ele penso, mudando-lhe a imagem, enbelezando-o, incentivando-o a escrever doutra maneiras e a deixar-se de palermices. é este o sr.murakami que quero. e assim será!

15.3.10

o que vejo

à minha frente autocolantes que defendem os animais...que tentam. um cão que olha fotografado num postal colado na porta do armário. lá dentro, pratos lavados, suponho. um pinto que diz "i'm a rock star" - e eu penso: "quem me dera!". vacas com os beiços contornados de leite, num incentivo ao consumo do mesmo e eu mantenho-os ali, ao longo de todos estes tempos porque, apesar de ser contra, acho piada aos postais e como estão num idioma que ninguém compreende, penso que não faça mal. uma fotografia de barcelona. animais mínimos pendurados numa ventosa noutra porta do armário: um burro, uma tartaruga, uma centopeia. lá dentro, copos lavados, suponho. um pequeno postal que diz i (1 coração) u. uma máquina de lavar roupa branca que abana a casa e as paredes prontas a cair, a qualquer momento. um copo de sumo a meio. uma embalagem de sal. jornal da semana passada e joanna newsom na capa e nos meus ouvidos, enquanto toca no mp3 cor-de-rosa comprado na hungria. um prato com azeite. pão dentro dum saco de papel. tenho comido todo o dia. atrás de mim, os nacos de soja que hão-de servir para qualquer coisa no jantar. dois cartazes ainda que dizem "you can" e "you can fly". olho-os e não sei como me sinto. continuo em frente ao monitor. há dias que é assim, mas não vou a nenhum lado e asas ainda não tenho. "you can fly" - que mentira que me conto agora. e acredito-me um pouco. a joanna newsom continua a cantar "emily". e eu continuo a escrever, porque não há mais nada para fazer. nem isto. se saísse agora de casa, ninguém ia notar!






nunca mais é sexta-feira, para eu ir trabalhar!

in the mood

momento para ouvir beach house

diálogo possível

- vou sair.
- onde vais? posso saber?
- à biblioteca (silêncio) buscar palavras para te dizer.

alguém virá

agora é que são elas. diz-se o que se diz, pensa-se o que se pensa, critica-se e sente-se a culpa, sempre a culpa e sempre do nosso lado. porque dizes? porque pensas? porque fazes? porque é que és assim e desta maneira e pensaste assim...pensei eu. fala-se sem conversar, escreve-se sem olhar, diz-se sem comunicar. as costas viradas. os olhares no monitor que lê o que não se disse e pensa no que não se falou. já não há gestos, há toques. já não há sorrisos, há tremores. já não há olhares, há infinitos. as coisas estão longe de ser. não são. acorda-se e faz-se o ontem. adormece-se e repete-se o ontem. ontem, ontem, ontem. já nada se prevê. nada age. come-se. mais, nem isso. os actos são os normais, no normal dos dias. não chega ninguém com novas conversas. ninguém traz notícias de fora e espreitando pela janela, a vista é a mesma. dum lado, a praça. do outro os carros que passam. por cima, o sol que espreita pela manhã e que raramente entra no quarto, sempre fechado, porque só à tarde se abre para o exterior. enfim, sós. uns dias melhores que outros. dias comuns. lugares comuns. pensares comuns. nada vem de fora. nada se absorve de novo. serão os outros precisos? o prazer dos outros. o gosto dos outros. o silêncio dos outros. o querer e o desejo dos outros. vir. partir. vir. partir. são? é? porque é que és assim? porque pensas? porque sentes? porque dizes? porque não te calas e me deixas em silêncio? porquê tanto? porquê? porquê? canso-me de escrever para conseguir dizer. amanhã será como ontem. lugar. pensar. dia. comum. igual. alguém virá.

10.3.10

susanna and the magical orchestra

soube e fiquei todo feliz da vida, que susanna and the magical orchestra iam voltar a portugal. soube e fiquei feliz da vida! soube e soube logo de imediato que iria vê-los, mas ir a lisboa era coisa que não me dava mesmo jeito. então decidi-me a vasculhar...minto, foi a tanya que se antecipou e cuscou por mim, quando eu disse: "ui" - sim, disse ui, "não sei se o pb não os programou já no theatro circo, antes de sair" e, dito feito...programou mesmo! mas as boas notícias da tanya não se ficaram por aí e disse-me: "mas sabes? também vão estar em ovar, no centro de arte!" - "claro" - respondi (há pessoas que vão perceber este claro melhor que outras) e fiquei ainda mais feliz da vida!

não só estão mais perto, como posso ir vê-los novamente a braga - a primeira vez que os vi, senti uma sensação de me afundar na cadeira, ficar cidrado na voz dela e nos sons que andavam por ali, a acalmar-me ao mais radical da coisa e foi dos melhores concertos da minha vida - e a ovar!

o mesmo, duas vezes!

9 Abr 2010 20:00
Centro de Arte Ovar
10 Abr 2010 20:00
Theatro Circo Braga Braga
12 Abr 2010 22:00
Teatro Maria Matos Lisbon

escrito por leonard cohen, deixo aqui uma das minhas músicas favoritas - hallelujah - interpretada por susanna and the magical orchestra. sentem-se e ouçam. divinal!


1 ano menos 9 dias depois

foi há quase um ano que escrevi pela última vez neste blog e a justificação desta ausência prende-se com a viagem que fiz durante 9 meses, mas também em toda a "planificação" antes e o rescaldo, depois. durante a viagem, senti necessidade, muitas vezes, de ter uma coisa só minha que continuasse a ser uma exposição daquilo que ia sentindo, querendo, desejando, pensando, mas o tempo era escasso e este blog ficou sempre para 6º lugar...com mais 5 à frente, que não me lembro exactamente do que foi neste momento.

agora, voltei a ele e a linha, apesar de ser a mesma, pretende ser diferente. igual, mas melhor. com os mesmos assuntos, mas outros. vai falar mais, contar mais, reagir mais ao meu dia-a-dia e aproveitar que me é dada esta chance e não falar só de coisas que me fazem torcer o nariz, repuxar o sobrolho ou colocar a boca de ladeiro. nada de intelectualidades. a realidade aqui e já. aqui vamos!

música, livros, pessoas, intimidades, pensamentos, teatradas efermas, problemas e afins. quem quiser sair, que o faça neste momento, porque a partir de hoje, nem eu sei o que vai acontecer.

(isto foi só mesmo para abrir a curiosidade, fazer crescer água na boca, porque eu sou uma seca e tudo vai continuar parecido...)

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todas as fotografias aqui editadas são da minha autoria. nenhuma destas imagens poderá ser utilizada sem o meu consentimento prévio.

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