18.12.08

18.12.2008

hoje sinto-me de ninguém. vagueio numa cidade que não é minha. como se alguma fosse. num dia frio, saiu à rua e encaro-me com pessoas das quais os sorrisos desconheço. é natal, contam. vê-se nas ruas. o espírito de natal, contam. as luzes piscam e não consigo deixar de pensar o que se poderia ajudar com todo o dinheiro que foi gasto. nas luzes. nas prendas. nos jantares. nas festas. nas roupas. o espírito de natal, contam. chego a casa e ouço-a vazia, não fossem os meus cães, que não sabem o que é isto do natal, sentiria também o cheiro a vazio. subo os dois andares e a casa está fria. acendo as luzes. a casa está fria. não aguento estar aqui sozinho - penso - mais vale piscar o olho a sorrisos que desconheço. saimos para a rua e vagueamos. esta cidade não é nossa. nunca foi. a noite acalma. caminho lentamente e observo a vida desta cidade que não é minha. não pertenço a cidade alguma. andei sempre a saltar dum lado para o outro. em busca da não monotonia. em busca de palavras que não conhecesse. sempre. conheço isto e aquilo. este e aquele. mas ninguém em especial. conheço tudo tão vagamente que não sinto minha nenhuma cidade. não sinto meu nenhum conhecido. hoje não me conheço. sinto-me de ninguém. o jantar está feito. tenho filmes para ver. livros. pessoas a quem telefonar a dizer que lhes sinto a falta. que as sinto. que sem ela, esta casa é um vazio imenso. custa-me sorrir mais do que este franzir de tristeza. não luto por nada, hoje. deixo que as coisas aconteçam. que venham. escrevo para não esquecer que hoje sou ninguém. hoje. vai custar-me adormecer, disso tenho a certeza.

aviso

todas as fotografias aqui editadas são da minha autoria. nenhuma destas imagens poderá ser utilizada sem o meu consentimento prévio.

follow me