4.12.08

eduardo prado coelho fez-me escrever

numa mensagem, que já deve ter rodado meio milhão de país e sido reencaminhado para outro milhão, com um orgulho descomunal, um texto de eduardo prado coelho abre-se a nossos olhos. o texto fala, como já devem saber, do que é ser português, basicamente. da chico-espertice. o texto agrada-me, a mim pessoa particular, pois penso exactamente como o senhor, apesar de achar que chego ao fim do dia e, olhando-me ao espelho, não vejo um chico esperto.

acho piada, a máxima, esta mensagem ser-me enviada por as mais diversas pessoas, dos mais diversos pontos do país. ser colocada em sites, blogs, jornais, pelas mais variadas pessoas, nos mais diversos pontos do país. com um orgulho descomunal! como uma mensagem ao outro dizendo: vê lá se pensas e deixas de te armar em chico-esperto. és tu que fazes com que este país esteja uma merda. brincadeira de mau gosto, só pode ser! analiso algumas pessoas que fizeram isso, e reparo que elas mesmas, ou não compreendem o texto, ou acharam que ler ou ter um texto do eduardo prado coelho, era uma coisa deveras intelectual, ou então, são estúpidas e continuam a fomentar o chico-espertismo, qual durão barroso que, depois de ter sido questionado acerca da poluição que o seu jipe topo de gama fazia, quando andava a tentar convencer o povo a poluir menos disse: olha para o que eu digo, não para o que eu faço! lindo, exemplar, pedagógico!

eu próprio, não posso dizer que contribua para este chico-espertismo. não contribuo. se há coisa pela qual me oriento, é pela ética. sempre o fiz, continuo a fazê-lo. a ética faz parte da minha vida. estudo ética. leio sobre ética. penso-a. imagino-a. desejo-a. sou um ser com ética. diz o dicionário que ética, "é aquilo que é bom para o indivíduo e para a sociedade". chego à conclusão então, que de ética, o normal português, tem muito pouco. penso por vezes no egoísmo das pessoas e penso que muitas vezes, viveria talvez muito melhor, se fosse também eu um pouco egoísta. mas não viveria mais feliz! mas eu sou feliz! sou feliz, porque não penso só em mim quando faço alguma coisa. nunca em mim primeiro. como serei eu capaz de comprar uma coisa, sem pensar no que esta compra pode afectar? como poderei eu comer uma coisa, sem pensar no que isto pode causar? como poderei eu decidir uma coisa, sem pensar no que esta decisão pode fazer no outro?

leio neste momento um livro dum autor que é um dos meus gurus: peter singer. intitula-se "um só mundo - a ética da globalização" e fala, como se pode perceber, da globalização. mas o que é isto de um só mundo, o que é isto da globalização? dum livro com 280 páginas, uma frase pode ser retirada: é a preocupação com o outro e ter consciência do efeito borboleta (deixem-me usar um cliché). um abanar de asas duma borboleta em portugal, pode causar um ciclone no japão.

o que não compreendo muitas vezes, são as pessoas que reclamam por tudo e por nada. ou porque têm a mais e não conseguem vender, ou porque têm a menos e não têm o que vender. é reclamarem sem terem consciência do que pedem, sem terem consciência que são, também eles, os causadores de tantos males.

lembro-me há dois anos de uma grande polémica em portugal, quando um grupo de "vândalos" (utilizando a expressão da maior parte das pessoas) entrou num campo cultivado com milho transgénico no algarve e destruiu parte dele. morte aos terroristas, gritava-se. destruiram parte da plantação, meio de sustento do "pobre" agricultor que, mesmo fazendo um cultivo proibido naquela área do país, teve uma grande despesa. a revolta cresceu dentro de mim. as mesmas pessoas que gritavam palavras de ataque a este grupo de pessoas, são as mesmas que, com todo o direito, fazem o mesmo, sem terem consciência disso. se a destruição do milho se tratou de um acto que prejudica o rendimento de outro, o que significa então a pirataria? gravar cd's, dvd's, fotocopiar? não será, também esta, prejudicar o rendimento do outro? ah, claro que não! porque não é nosso, porque não somos nós os artistas, porque não somos nós os actores deste filme, porque senão, seria exactamente a mesma coisa!

as ruas parecem rios quando chove, os esgotos estão todos entupidos. e vejamos, a grande parte das pessoas que o reclama, são os fumadores que, após terminarem de poluir o ar, acham-se no direito de atirar a beata para o chão...entupindo assim os esgotos!

nesta altura de natal, enviam-se centenas de mails com imagens de animais que sofrem, que são maltratados, que são assassinados. as palavras de ordem são sempre as mesmas...se tiver coragem, olhe para estas imagens. mas as pessoas não é que não tenham coragem. as pessoas são é cobardes. como posso eu aceitar um mail destes, sem ter vontade de insultar alguém, enviado por uma pessoa que no natal se senta à mesa de jantar para devorar um grande peru? que oferece fois gras a um amigo? que leva os filhos ao circo no natal? que compra uma mala em pele (será que as pessoas têm consciência que pele é mesmo pele?) de presente? que compra um casaco de vison para ir aquela festa? como posso eu aceitar isto de bom grado? as pessoas não podem ser normais, só assim faz sentido!

como posso eu continuar a consumir carne de animais, quando sei que milhares de florestas tropicais são destruídas para se fazerem campos de cultivo para os alimentar? quando sei que as suas fezes, são o maior culpado do desaparecimento da camada de ozono da atmosfera? quando sei as doenças que todos os produtos que os fazem ingerir, provocam na saúde humana e que, mais tarde, o estado (que naquela altura estará nas mãos doutras pessoas e que mesmo assim, o português reclamará) gastará milhares em saúde, para curar ou tentar curar estas doenças, quando poderia este dinheiro ser gasto em coisas bem mais essenciais, como a formação, a cultura, o desenvolvimento variado?

como posso eu gastar centenas de contos em prendas de natal, em carros, em casas, em férias, em bebidas, em droga, em bens fúteis, sem pensar nos que morrem sem ter com o que sobreviver? como sou capaz? não sou. mas as pessoas que me enviam mails com fotografias de países em guerra, de países com crises de fome, sim, esses são capazes de desperdiçar tudo o que têm, de se enterrar em despesas, para satisfazerem a sua fome consumista.

como posso eu demorar-me 10 minutos num banho de água quente, quando sei que a água é um bem esgotável? não é não posso. é, não devo. sabia-me tão bem, confesso mas...e os outros, os que não têm? as pessoas que o fazem, de certeza que nuca passaram (e acreditem que isto não é nada, em comparação ao que vi) pela necessidade de ter água potável, como eu tive quando estava na índia e ter que fazer quase 3 horas de autocarro para conseguir água que se pudesse beber. mesmo não sendo isto um sacrifício, tive noção do problema com que nos deparamos.

como podem as pessoas, voltando agora atrás, estar contra um grupo de "vândalos" que se entrega para nos defender? para chamar a atenção para problemas que, não fossem eles, não estavam a ser debatidos agora. como é que a comunicação social não diz que muitas regiões no algarve, são agora proibidas ao cultivo de transgénicos? como é que estes não dizem que a maior parte da europa se debate agora contra o seu cultivo? não interessa. não vende. as empresas não pagam para se dar esta notícia. para se fazerem reportagens sobre.

decido-me a parar por aqui, pois é assunto que não tem fim. talvez porque tivesse acordado mal disposto, senti que esta má disposição poderia ser transformada em informção positiva...pelo menos isso. sou um ser com ética e só assim a minha vida faz sentido. doutra maneira, seria um ser banal, como todos, e andaria a criticar o governo e a dizer que portugal é um país de chico espertos...sem olhar para mim próprio. finalizo com a última frase do eduardo prado coelho:

"e você, o que pensa?...medite!"

aviso

todas as fotografias aqui editadas são da minha autoria. nenhuma destas imagens poderá ser utilizada sem o meu consentimento prévio.

follow me