10.11.08

animal que sou eu

ando com o mesmo carro há anos. tem 253.000km! está desarranjado, mas anda! é um fiat e...anda! nunca tem problemas. meter gasóleo e andar! já fez portugal de lés-a-lés. já viajou até barcelona duas vezes. já foi à croácia e veio. e anda! perguntam-me os meus colegas porque não o troco, pois já tem quilómetros a mais, está na altura. mas porque hei-de eu trocar - pergunto - não anda? para que quero eu um carro xpto, se este é perfeito?

o teu telemóvel está todo partido. agora arranjas um por meia dúzia de euros - dizem. mas porque achas que quero outro telemóvel? este não trabalha bem? sim, mas está velho - dizem. e então? não funciona? não faz chamadas e envia mensagens? não será essa a função do telemóvel?

a tua camisola tem um buraco. está na altura de comprares roupa nova e deitares essa t-shirt para o lixo. mas porquê? porque tem um buraco junto ao pescoço? mas ela proteje-me do frio e do calor. evita que ande em tronco nu. para quê comprar outra se esta me serve na perfeição? porque...tem um buraco de meio centimetro junto ao pescoço? não achas exagerado deitar fora esta camisola só por causa disso?

porque não pões a via verde no teu carro? assim não paravas nas portagens. mas eu quero parar nas portagens. quero ter pessoas que trabalhem nas portagens. não quero, daqui a uns anos, ser só atendido por máquinas. não quero fazer uma viagem que me leve deste ponto àquele, sem falar com ninguém. sem a presença dum humano no caminho. eu quero parar na portagem! quero dizer boa tarde, sorrir e ouvir um boa viagem! talvez seja por isso que, sempre que a máquina me dá o talão que ao fim entrego para pagar, siga o meu pai e lhe agradeça sempre com um obrigado! o meu pai, fá-lo por gozo, talvez. eu não, eu acredito mesmo que lá dentro está um humano sentado! eu quero que esteja.

estás a ficar careca, sabias? eu sei que estou a ficar careca. eu sei ver-me ao espelho. eu olho-me. também sei que sou magro e tenho barriga. também sei que tenho a barba ruiva e o cabelo castanho. também sei que me faltam dentes. sei também que caminho como o meu pai, de braços abertos. eu sei isso tudo, portanto parem de me dizer coisas que já sei. careca, claro que estou a ficar. já não tenho 20 anos. o sangue já não me irriga certas partes do couro cabeludo. não é doença, como me querem fazer crer quando me dizem: estás a ficar careca - como se me estivessem a dizer - é pá, tens manchas no corpo. tens um olho inchado. tens um papo no pescoço. não, não é doença. sou assim. é humano envelhecer-se e...ficar careca!

aviso

todas as fotografias aqui editadas são da minha autoria. nenhuma destas imagens poderá ser utilizada sem o meu consentimento prévio.

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